O Primeiro Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil, produzido pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) e pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e obtido pelo Broadcast Político, constatou que três brasileiros morrem a cada cinco minutos no Brasil, em hospitais públicos e particulares, num total de 829 óbitos por dia, por falhas hospitalares que poderiam ser evitadas.
Esta é a segunda causa de morte mais comum no Brasil. Perde apenas para doenças cardiovasculares, que de acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, é responsável pela morte de 950 brasileiros por dia. É bem maior do que os óbitos causados por câncer (de 480 a 520 mortes/dia), violência (164 mortes/dia) e acidentes de trânsito (129 mortes/dia).
Em 2016, foi registrado 302.610 óbitos de brasileiros em hospitais, em consequência de um “evento adverso”, que inclui erros de dosagem ou aplicação de medicamentos, uso incorreto de equipamentos, infecção hospitalar, entre outros.
De acordo com a professora da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e uma das coordenadoras da pesquisa, Tania Grillo, isso “não significa, necessariamente, que houve um erro, negligência ou baixa qualidade, mas trata-se de incidente que poderia ter sido evitado.”
Renato Couto, doutor e professor da UFMG e um dos responsáveis pelo Anuário afirmou que “não existe sistema de saúde que seja infalível. Mesmo os mais avançados também sofrem com eventos adversos. O que acontece no Brasil está inserido em um contexto global de falhas da assistência à saúde nos diversos processos hospitalares. A diferença é que, no caso brasileiro, apesar dos esforços, há pouca transparência sobre essas informações e, sem termos clareza sobre o tamanho do problema, fica muito difícil começar a enfrentá-lo.”
Além das mortes, os eventos adversos também podem gerar sequelas que podem comprometer o exercício das atividades da vida do paciente, causar sofrimento psíquico, além de elevar o custo assistencial.
De acordo com informações do Anuário, dos 19,1 milhões de brasileiros internados em hospitais ao longo de 2016, 1,4 milhão foram “vítimas” de algumas dessas falhas hospitalares, como por exemplo erros de dosagem ou aplicação de medicamentos, uso incorreto de equipamentos e infecção hospitalar, entre outros casos. As principais vítimas são os bebês, com menos de 28 dias de vida, e os idosos acima dos 60 anos.
Das ocorrências em geral, 14,7% correspondem às infecções hospitalares. De acordo com Grillo, a maior parte das falhas está relacionada a causas não infeciosas (85,3%): “no caso dos óbitos, são as mais comuns, principalmente pelo seu grau de gravidade e pelo potencial de se transformarem em infecções sistêmicas”, explica ele. Mesmo assim, a maioria delas produz dano ao paciente (71,7%).
Lesão por pressão; infecção urinária associada ao uso de sonda vesical; infecção no local cirúrgico; fraturas ou lesões decorrentes de quedas ou traumatismos dentro do hospital; trombose venosa profunda ou embolia pulmonar; estão entre as condições mais frequentes desta constatação, além de infecções relacionadas ao uso de cateter venoso central. Além disso, problemas no atendimento também aumentam o tempo de internação em três vezes. Segundo o anuário, os eventos adversos custam R$ 10,9 bilhões por ano.
De acordo com o anuário, anualmente são registrados 421 milhões de internações hospitalares e 42,7 milhões de eventos adversos. É um problema de saúde pública reconhecido pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
No Brasil não existe uma fonte oficial que faz a coleta sistematizada desses dados. Grillo afirma que “artigos científicos nos mostram que a situação no Brasil é grave e que precisa ser tratada como prioridade. As ocorrências são bem maiores do que em países de primeiro mundo e similares do que na Ibero-América”.
O estudo também mostrou um comparativo com a ocorrência desses eventos nos Estados Unidos, que causam 400 mil óbitos por ano, o que representa 1.096 mortes por dia, semelhante ao Brasil, com 829. Entretanto, a população norte americana é 55,6% maior do que a do Brasil.
Couto, ressalta que “está claro que esse não é um problema desse ou daquele hospital, mas de uma disfunção sistêmica”. Entre as medidas, ele sugere um modelo de recompensa monetária para hospitais que apresentarem menos erros, além de um mecanismo de transparência com uma classificação das unidades hospitalares com base em parâmetros técnicos, “para que possa servir como parâmetro de escolha para os pacientes.”
Com informações Estadão e UOL
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