No estudo, foram injetadas pequenas quantidades do patógeno no cérebro de camundongos com estágio avançado da doença. Como resultado, foi observada uma redução significativa da massa tumoral e aumento da sobrevida dos animais. Em alguns casos, houve a eliminação completa do tumor – até mesmo da formação de uma nova lesão tumoral.
“Estamos muito animados com a possibilidade de testar o tratamento em pacientes humanos e já estamos conversando com oncologistas. Também submetemos uma patente com o protocolo terapêutico adotado em roedores”, afirmou Mayana Zatz, professora do IB-USP (Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo) e coordenadora do Cegh-CEL(Centro de Pesquisas do Genoma Humano e Células-Tronco), um centro de pesquisa, inovação e difusão apoiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
O pesquisador e professor do IB-USP, membro do Cegh-CEL, Oswaldo Keith Okamoto, e que também participou da pesquisa, afirma que o Zika possui uma afinidade ainda maior pelas células tumorais do sistema nervoso central do que pelas células-tronco neurais sadias, principais alvos do vírus no cérebro de fetos expostos durante a gestação. “Ao infectar a célula tumoral ele a destrói rapidamente”, conclui ele.
Paralelamente ao desenvolvimento da parte teórica em laboratório, o grupo pretende avançar até a fase de ensaios clínicos em humanos. “São tumores para os quais hoje há poucas opções terapêuticas. A ideia seria começar com dois ou três pacientes que não respondem aos tratamentos convencionais e, se a estratégia funcionar, estender para um grupo maior”, afirma Zatz.
Para ela, o fato de milhares de brasileiros já terem sido infectados pelo Zika durante a epidemia de 2015 indica que o procedimento é suficientemente seguro. “Cerca de 80% dos infectados nem sequer apresentam sintomas. Os outros 20%, em sua maioria, manifestam sintomas leves, muito menos agressivos que os da dengue ou que os efeitos adversos da quimioterapia.”