Liderada por pesquisadores da University College London (UCL), no Reino Unido, uma pesquisa mostra que os riscos de desenvolvimento de demência entre viúvos é 20% maior, enquanto os divorciados têm a mesma chance de apresentar demência que pessoas casadas. A descoberta foi publicada na revista científica Journal of Neurology, Neurosurgery, and Psychiatry.
O estudo foi realizado com base na análise e comparação de 15 pesquisas individuais estudadas previamente, com um total de 812 mil participantes, sobre a relação entre estado civil e demência.
Segundo os pesquisadores, o casamento pode mudar a exposição das pessoas a fatores de risco e de proteção em relação à demência. Estudos mostram, por exemplo, que quem é casado costuma adotar estilos de vida mais saudáveis.
De acordo com Laura Phipps, do Alzheimer’s Research UK, instituto de pesquisa sobre a doença, considerada a forma mais comum de demência,”os cônjuges podem ajudar a incentivar hábitos saudáveis, cuidar da saúde dos parceiros e dar um apoio social importante”.
Pesquisas anteriores já mostraram que, entre os fatores que contribuem para o aumento do risco de demência, estão: falta de atividade física, hipertensão, obesidade, isolamento social, baixo grau de educação, entre outros.
Neste sentido, a pesquisa sugere que o risco de pessoas solteiras desenvolverem demência vem possivelmente diminuindo nas novas gerações: “ficar solteiro tornou-se mais comum. Pode ser que pessoas solteiras nascidas na segunda metade do século 20 tenham menos características cognitivas e de personalidade incomuns”. Já entre os viúvos, a incidência se mantém estável ao longo do tempo.
O estudo também afirma que pessoas casadas também são mais propensas a interagir socialmente, e, a interação social ajuda a construir uma reserva cognitiva e a reduzir o risco de desenvolver demência ao longo da vida, afirma a pesquisa: “o estudo sugere que a interação social pode ajudar a construir uma reserva cognitiva – uma resiliência mental que permite que as pessoas vivam por mais tempo com uma doença como o Alzheimer antes de apresentar os sintomas”, explica Phipps.
Os pesquisadores também indicam é possível uma relação direta do luto com o aumento do risco de demência, pois o estresse provocado pela perda tem um efeito prejudicial sobre os neurônios do hipocampo do cérebro (considerado a sede da memória em nosso cérebro), o que explicaria a incidência maior da doença entre os viúvos.
Outra possível explicação é que o surgimento da demência esteja relacionado a aspectos cognitivos – que influenciam o comportamento de cada indivíduo – e traços da personalidade.
Segundo o estudo, pessoas com dificuldade de flexibilidade de pensamento ou comunicação – e consequentemente menor reserva cognitiva – podem ser menos propensas a se casar, em sociedades na qual o casamento é considerado norma social. Logo, haveria apenas uma correlação entre os fatores: pessoas que desenvolvem demência também costumam ser solteiras, e as duas condições seriam resultantes de um terceiro fator.
“Pessoas solteiras ou viúvas podem ter menos oportunidades de engajamento social à medida que envelhecem, mas nem sempre é o caso. Essa pesquisa aponta para diferenças nos níveis de atividade física e educação subjacentes a grande parte das diferenças no risco de demência entre solteiros, casados e viúvos”, pondera Phipps.
De acordo com a pesquisa, o risco de desenvolver demência na viuvez é diminuído a depender do nível educacional da pessoa. Entre solteiros, o agravamento de problemas da saúde física afeta o aumento do risco. A prevenção da demência em pessoas que não são casadas deve, ainda de acordo com o estudo, “se concentrar na educação e na saúde física, considerando o possível efeito da interação social como um fator de risco modificável”.
Mas, segundo a pesquisadora Phipps, a dica vale para todos: “permanecer fisicamente, mentalmente e socialmente ativo são aspectos importantes de um estilo de vida saudável e são coisas que todo mundo, independentemente do estado civil, pode trabalhar”, finaliza.
Com informações BBC News
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