A ansiedade é algo mais comum do que imaginamos. Somente no Brasil, cerca de 13,3 milhões de pessoas têm distúrbios de ansiedade. A doença atrapalha relacionamentos, desempenho profissional e o bem-estar físico e emocional do indivíduo. Em 2016, 6,4% da população brasileira sofria com transtornos do tipo, bem mais que a média global, de 3,9%, de acordo com estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS).
E você sabe o que é um transtorno de ansiedade e como diferenciá-lo da ansiedade natural?
Segundo Olivia Remes, doutoranda e pesquisadora do Departamento de Saúde Pública e Cuidados Primários da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, transtornos de ansiedade generalizada são caracterizados por sensações frequentes de medo, inquietação, e de “sentir-se no limite”.
“Quando uma pessoa tem um prazo apertado ou uma emergência no trabalho, ela se sente ansiosa e isso é normal. Mas há pessoas que se preocupam com cada ponto de suas vidas e não conseguem se livrar disso”, explica. “Pessoas com esse transtorno se preocupam muito mais frequentemente e com mais intensidade que aquelas com uma boa saúde mental.”
Apesar da seriedade dos distúrbios de ansiedade e que, muitas vezes necessita de acompanhamento com especialistas, é possível desenvolver habilidades para lidar com o transtorno. A pesquisadora, Remes, compartilha algumas estratégias para lidar com o problema, baseada no estudo que liderou recentemente. Confira:
1. Monitore seus pensamentos
Sim. As pessoas que sofrem com transtornos de ansiedade geralmente são tomadas por pensamentos negativos que invadem a mente. “Pessoas com transtornos de ansiedade são pessimistas. Elas acreditam que algo ruim está prestes a acontecer, mesmo que não haja nenhuma evidência que aponte para isso. Elas temem o futuro e acham muito difícil evitar esse tipo de preocupação”, conta a pesquisadora.
Para lidar com a situação, a pesquisadora indica não lutar contra os pensamentos negativos, mas sim, deixar um momento do dia para o “momento da preocupação”, e se permitir ruminar em um período limitado de tempo. Ela recomenda designar o horário das 16h, por exemplo, para as preocupações, e dar a si mesmo 20 minutos para elas.
“A literatura psicológica mostra que nossos pensamentos murcham se não os alimentamos com energia. Ao empurrar esses pensamentos para um outro momento do dia, quando você chegar no momento designado para a preocupação, eles talvez não pareçam tão confusos ou preocupantes como pareciam quando brotaram em sua mente pela primeira vez”, explica Remes.
2. Pratique atividades físicas e meditação
A famosa citação latina “uma mente sã num corpo são” não é gratuita e faz todo o sentido. De acordo com Remes, saúde mental e física são codependentes. Os exercícios físicos são um aliado essencial para o bem-estar psíquico. E a meditação consciente, em conjunto com exercícios regulares, também pode ajudar mentes com transtorno de ansiedade.
Um estudo realizado na Universidade de Nova Jersey, e que foi publicado recentemente na revista Nature, afirmou que, com apenas duas sessões semanais de meditação e atividades físicas, de 30 minutos cada uma, foi possível reduzir drasticamente sintomas depressivos nos 52 participantes da pesquisa. Segundo Remes, “quando você se exercita, você diminui seus níveis de ansiedade e você tem mais energia. Você simplesmente se sente melhor como um todo”.
Em oito semanas de estudos os pesquisadores confirmaram que além de ser últil para quadros de depressão, também pode ajudar pessoas que tendem a ruminar pensamentos, o que é bastante comum entre os ansiosos. “Eu realmente fiquei muito surpresa com esse estudo, com o quanto essas mudanças de hábito podem ter um impacto tão grande”, afirmou a pesquisadora.
3. Encontre um propósito – nem que seja cuidar de seu animal de estimação!
É isso mesmo! De acordo com a pesquisadora, pessoas que apresentam distúrbios de ansiedade, muitas vezes, não conseguem identificar um propósito claro em suas vidas, e com isso, por muitas vezes não acreditam que valha a pena investir esforços para superar desafios.
No estudo recente liderado por ela sobre níveis de ansiedade em mulheres que vivem em situações de privação econômica, Remes descobriu que mulheres, mesmo vivendo situações difíceis, quando tinham senso de coesão, de propósito e que enxergavam sentido em suas vidas, apresentavam menos distúrbios de ansiedade.
No livro Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração, publicado pelo o médico austríaco Viktor Frankl, em 1946, o médico narra suas experiências como prisioneiro em Auschwitz. Frankl também analisa a resposta psicológica de diferentes prisioneiros expostos em campo de concentração nazista. Ele argumenta que encontrar sentido no cotidiano é uma forma de lidar com a adversidade.
Mesmo extraídas de uma experiência dramática, Remes afirma que as lições de Frankl são um mecanismo útil para aqueles que sofrem com ansiedade. “Nos relatos de Frankl, um traço de personalidade que diferenciava os prisioneiros eram aqueles que conseguiam manter um propósito mesmo naquela situação. Para um era saber que sua filha o aguardava, então ele precisava sobreviver para ela e isso lhe deu esperança. Para outra, era saber que ela tinha um trabalho importante para finalizar”, afirma.
No nosso cotidiano, sentir que você é necessário para uma outra pessoa ou para alguma coisa, nos ajuda na construção de propósito. Essa conexão pode ser exemplificada em atividades de voluntariado, em cuidados com um familiar enfermo, na educação de uma criança ou mesmo nos cuidados com um animal de estimação, aponta a pesquisadora.
“Quando você coloca seu foco em algo além de você, esse ato te ajuda a dar um tempo de si mesmo”, explica. “Ter outras pessoas em mente é muito importante, porque torna um pouco menos penoso passar pelos momentos mais difíceis”, afirma ela.
4. Veja mais o lado bom da vida (por mais que seja difícil)
Embora controlar quais pensamentos te veem à mente seja impossível, é possível dialogar com eles. Se algo ruim te chamar a atenção, procure o lado bom. Procure desviar de coisas e pensamentos negativos, ou busque um conforto para contorná-los. De acordo com a pesquisadora, essa atitude positiva perante pequenos momentos tendem a reverberar também no nosso bem estar emocional.
Foque em outras atividades do corpo quando pensamentos negativos invadirem a mente, como, por exemplo, a respiração, que pode até ajudar a amenizar seus efeitos. “Reconheça que esses pensamentos catastróficos que vêm à mente, que te fazem se sentir péssimo, são apenas eventos mentais que irão passar”, diz Remes.
Adote uma atitude positiva perante à vida, foque nos aspectos bons e não nos ruins. Isso é essencial para lidar com pensamentos negativos. A pesquisadora também recomenda olhar para coisas que te dão prazer, ao invés das que te irritam ou deprimem.
5. Viva no presente, no agora!
Ser constantemente tragado por memórias do passado, além da prática de ruminar pensamentos, e preocupar-se demais com o futuro tende a alimentar a ansiedade. Remes aponta que é importante manter um foco constante no que você está fazendo agora.
“Estudos mostram que, quando nós vivemos no passado, revivendo memórias antigas, essa atitude nos deixa depressivos e menos felizes. Na verdade, ficamos mais felizes quando vivemos no momento presente. Se você está trabalhando, simplesmente foque naquilo que você está fazendo. Simplesmente viva no presente”, conta a pesquisadora.
6. Busque terapia
A terapia é uma grande aliada para a saúde mental, e nem sempre é possível lidar com distúrbios de ansiedade. Neste casos, uma possibilidade é a terapia cognitivo-comportamental, que busca uma postura construtiva do paciente, e que aponta que a forma como compreendemos questões internas e externas é que determina nossas respostas tanto emocionais quanto comportamentais.
Para a pesquisadora, buscar desenvolver habilidades para enfrentamento da ansiedade junto à terapia são as melhores formas de lidar com o transtorno.
Fonte: BBC Brasil