Conexão materna: Parte do filho vive na mãe

O Microquimerismo, como é chamado este fenômeno, já é muito bem conhecido no meio médico. É a existência de células do filho nos órgãos ou corrente sangúinea da mãe, que existe mesmo quando um aborto acontece ou entre gêmeos por exemplo. E o nome vem da mitologia grega onde a Chimeria era uma criatura que era parte serpente, parte leão e parte cabra.

Isso acontece durante a gravidez onde o DNA do filho fica nas células da mãe e vice-versa, mesmo depois de anos depois da gravidez, estas células continuam por lá. As células eram antes encontradas em tecidos como o coração por exemplo.

Agora cientistas descobriram que esta ligação é ainda mais profunda e pode residir dentro do cérebro da mãe.

Quando a conexão materna começa

A gravidez é o período onde a mãe começa e se conectar com o filho.

Este efeito foi descoberto há muitos anos atrás quando células com o cromossomo “Y”, que são característicos de indivíduos do sexo masculino, foram encontrados circulando dentro da corrente sanguínea de mulheres. Logo, eles não poderiam ter vindo das mulheres em si e uma hipótese é que seria dos seus bebês durante a gestação.

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O Microquimerismo começa ainda no útero da mãe, quando ela supre calor e nutrientes para o filho. Ainda seu coração dá um ritmo confortante e calmante para o bebê, que entra em sintonia com a batida.

Esta conexão pode passar pela placenta, que é feita de células dos dois, mãe e filho e serve de condutor para troca de nutrientes, gases e dejetos fetais. As células uns dos outros pode passar pela placenta e encontrar uma moradia definitiva em órgãos como pulmão, tiroide, músculos, coração, rins e até na pele.

Este fenômeno pode ter vários impactos como na reparação dos tecidos, prevenção ao câncer e até provocando doenças imunológicas.

Será que pode ter relação também com os parceiros sexuais?

Um outro estudo analisou quatro grupos de mulheres: Grupo A tiveram apenas meninas, Grupo B tiveram um ou mais abortos naturais, Grupo C abortos induzidos e Grupo D nunca ficaram grávidas.

A presença de até 10% de Microquimerismo em mulheres do grupo D, que nunca ficaram grávidas, levanta uma hipótese que soa aterrorizante: O DNA dos homens com que as mulheres tiveram relações sexuais podem estar presentes em seu organismo.

Mulheres podem ter em seu corpo o DNA de homens que se relacionou sexualmente.

São 4 as possíveis fontes do Microquimerismo: Uma gravidez conhecida de um menino, abortos espontâneos, um gêmeo masculino ou até relações sexuais, segundo os pesquisadores.

Ainda existe muito a se pesquisar mas com certeza é um ponto para se prestar ainda mais atenção nos genes que você gostaria de ter em seu corpo durante a vida.

No caso materno, o assunto é muito mais romântico e bem menos polêmico.

Conexão entre mãe e filho até em nível cerebral

Para muitas mães ou irmãos gêmeos isso pode parecer óbvio, uma vez que eles afirmam conseguir sentir o que o outro sente, mesmo estando longe. Mas o que acontece agora é que um estudo recente pode estar desvendando este segredo e mostrando que esta ligação pode estar em nível de DNA das células da mãe e do filho.

Cientistas encontram DNA masculino nas células cerebrais de mulheres e constataram que elas podem estar vivendo por lá já há algum tempo, por anos até. Eles examinaram células cerebrais de mulheres doentes pela presença do cromossomo “Y”.

Eles encontraram estas células em quase 60% das células cerebrais e ainda em múltiplas áreas, o que pode ser um indício de que elas cumprem diferentes funções no cérebro.

Como o Alzheimer é mais comum em mulheres que tiveram vários filhos, os cientistas suspeitaram que o número de células fetais poderia ser maior em mulheres que tiveram Alzheimer do que nas que não manifestaram a doença.

A conexão mais profunda: dentro do próprio cérebro.

Porém os resultados foram opostos: Apenas algumas células estavam presentes nas mulheres que tinham Alzheimer.

As razões e os impactos ainda não são totalmente descobertos, porém o fato de que as mulheres que tem Alzheimer não possuíam ou tinham pouquíssimas células masculinas no cérebro, pode indicar de certa forma um link entre a saúde cerebral e a presença destas células no corpo da mulher.

Ao ver este fato pode até causar arrepios já que sempre pensamos em nós como indivíduos únicos e independentes. Mas o que estes estudos vem mostrando é que de alguma forma carregamos conosco traços até dos nossos ancestrais mais distantes, tudo isso dentro do nosso DNA.

E quando se trata da nossa progenitora, a conexão fica ainda mais forte. Entender que você pode ter células de outro indivíduo dentro de uma estrutura tão complexa como o cérebro pode ser ainda mais intrigante e nos fazer pensar sobre o que somos, como pensamos e porque pensamos da maneira que pensamos. Pode dar um nó na cabeça e muito assunto para os filósofos de plantão.

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A conexão começa durante a gravidez, mas continua depois do parto

As fontes desta conexão ainda estão sendo estudadas, mas há suspeitas de que elas podem até ser do próprio aleitamento materno, depois do parto. Durante o aleitamento materno, células da mãe ficam no organismo do filho por até 5 a 6 dias, depois não são mais detectadas. O que acontece ainda é um mistério.

A conexão é tão forte que estas células podem passar até de um feto para outro no caso de gêmeos, do primeiro filho para o segundo, via células que ficaram entre uma gestação e outra no corpo da mãe ou até mesmo existem indícios de que as células dos avós podem estar presentes nos netos.

Até mesmo depois de anos as células dos filhos podem ainda estar presentes nas mães.

Exatamente o que as células fetais fazem no organismo da mãe ainda não é claro. Porém existem algumas possibilidades. Por exemplo, estas células são muito parecidas com as células tronco que são células capazes de se transformar em uma variedade enorme de tecidos e até ajudar na reparação deles.

Um grupo de pesquisadores analisando esta relação em ratos, descobriu que existe uma atividade destas células fetais derivadas do Microquimerismo no organismo da mãe quando ela sofre um problema do coração: Eles viram que as células fetais migram para o coração, ajudando a reparar o tecido que foi danificado.

E outro estudo em animais, células fetais foram encontradas no cérebro das mães, onde eles se tornaram células nervosas, sugerindo ter adquirido alguma funcionalidade cerebral. É muito provável que o mesmo ocorra nos seres humanos e ai a conclusão seria que células do filho podem afetar a maneira de ser da mãe, o que começaria a explicar a intuição de mãe, ou porque a mulher se transforma depois de ter filhos. Mas ainda estamos um pouco longe disso.

As células fetais podem influenciar no sistema imunológico

Quando o Microquimerismo ocorre, células do feto ficam vagando no corpo da mãe. Estas células possuem metade do DNA da mãe e a outra metade do DNA do pai.

Uma célula fetal é reconhecida pelo sistema imunológico como metade fazendo parte do organismo, que é a metade da mãe, mas como metade estranha, sendo a metade do pai. Isto talvez ajude o sistema imunológico a reconhecer células cancerígenas.

As células cancerígenas são como as células fetais do Microquimerismo, pois sofreram mutações genéticas e agora parte do seu material genético é estranho ao sistema imunológico e parte é familiar. Alguns estudos já indicam que as células fetais estimulam o sistema imunológico da mãe contra o desenvolvimento de tumores cancerígenos.

Mulheres com câncer de mama por exemplo apresentam um índice muito menor de células fetais do que se comparadas com mulheres sadias, indicando mais uma vez uma possível relação com a prevenção da formação do tumor.

Porém existem casos contrários. Em pacientes com esclerose múltipla foram encontradas maiores populações de células do Microquimerismo, o que pode indicar que as células contribuíram para desligar o sistema auto imune, deixando assim esta doença se proliferar.

Será que somos todos interconectados em nível celular?

O Microquimerismo é um campo ainda muito amplo de estudos. Pouco se sabe sobre as origens destas células com genes masculinos em mulheres que até mesmo nunca ficaram grávidas, mas alguns estudos apontam para possíveis fontes como aborto natural, genes dos avós ou até mesmo relações sexuais durante a vida.

Células presentes no sangue, nos órgãos e até mesmo no cérebro de mulheres geram perguntas sobre as funções destes “corpos estranhos” dentro do organismo hospedeiro.

Alguns indícios mostram que estas células talvez ajudem a prevenir doenças como câncer e Alzheimer e até a reparar o coração depois de uma dano mais sério e outros estudos mostram que elas podem facilitar a manifestação de doenças como a esclerose múltipla.

Como nos relacionamos com os outros pode ficar marcado em nós, em nosso DNA.

O fato é que este fenômeno joga um novo olhar em o que nos defini como indivíduos, como nossas relações pessoas nos afetam até em nível celular e como evoluímos passando genes de uns para os outros.

Genes estes que podem estar em nossas famílias por gerações e gerações e talvez até pela eternidade.

Consultas:

  1. Scientific American
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