Células cancerígenas gostam (e muito) de açúcar – e, nos períodos em que o tumor cresce rapidamente, digerem a substância até 200 vezes mais rápido que células normais – foi a descoberta que levou o médico alemão Otto Heinrich Warburg, a ganhar o prêmio Nobel de Medicina, em 1931.
Depois de nove anos de pesquisas, em 2017, cientistas da Universidade Católica de Leuven, na Bélgica, descobriram porque e como isso acontece: “nossa pesquisa revela como o consumo hiperativo de açúcar por células cancerígenas leva a um ciclo vicioso de estímulo do crescimento e desenvolvimento do câncer”, afirmou um dos colaboradores, Johan Thevelein, em comunicado. “Ou seja: nós conseguimos explicar a correlação entre a força do fenômeno descoberto por Warburg e a agressividade do tumor.”
Uma célula pode gerar energia por respiração ou fermentação. Para gerar através da respiração, utiliza a glicose dos carboidratos, e o oxigênio, para gerar energia. O que sobra desta reação é o gâs carbônico – o CO2 que você expira.
Já através da fermentação, não usa o oxigênio – e é o método de produção de energia favorito de fungos, como as leveduras, por exemplo, que fazem pães e bolos crescerem. Da fermentação, além do gás carbônico, sobra o álcool.
A fermentação funciona como plano B no nosso organismo: nossos músculos, por exemplo, só a utiliza quando o ar que entra não é suficiente para suprir as necessidades energéticas das células.
Entretanto, as células mutantes de um tumor realizam fermentação e respiração ao mesmo tempo, mesmo que a quantidade de oxigênio recebida seja satisfatória. Com os dois processos acontecendo, a todo vapor, elas consomem os carboidratos (açúcares) 200 vezes (sim, duzentas) mais rápido do que o normal.
Procurando respostas para essa anomalia, os cientistas foram pesquisar as leveduras – os fungos que são princípio ativo do fermento, que dão preferência à fermentação, e possuem proteínas chamadas RAS, que controlam, tanto nos fungos como nos mamíferos, o ritmo das divisões celulares.
A resposta que os cientistas encontraram é que a fermentação do açúcar no interior da célula promove um processo que estimula a hiperatividade das proteínas RAS, acelerando o crescimento do tumor. Se torna um ciclo vicioso, em que a fermentação alucinada de glicose abastece o câncer de energia e desencadeia mutações que fazem com que ele cresça muito rápido.
E o problema das proteínas RAS é que quando elas saem de controle devido a uma mutação genética, elas começam a ordenar a reprodução das células (sejam elas do corpo humano ou de um fungo) em uma velocidade muito maior. Células se multiplicam exponencialmente: uma vira duas, duas viram quatro, quatro viram oito. E por aí vai: na décima geração, já há 1024 células mutantes onde antes havia uma só. E é desta forma que o câncer cresce tão rápido
Devemos deixar claro que o açúcar não causa câncer. Mas sim as mutações genéticas. O que ele faz, assim como em todas as outras células, é abastecer o crescimento do tumor, isso depois que ele já existe no organismo. Agora, com essa pesquisa, a ideia é realizar estudos sobre como mexer com o metabolismo do câncer – e, quem sabe, impedir sua proliferação.
Com informações Revista Super Interessante
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