Já ouviu falar dos Amish?
Os Amish são um grupo católico bastante conservador, famoso pelo uso trajes considerados sóbrios e por evitarem qualquer contato com automóveis, celulares e outras inovações tecnológicas.
Sua origem, até onde se sabe, é uma espécie de “ala radical” do protestantismo que emergiu na Suíça no final do século 16 – e atravessou o oceano, junto com a colonização dos atuais territórios dos EUA e do Canadá. Atualmente, na América do Norte, há por volta de 200 mil fiéis dessa denominação.
Os Amish são obrigados a se casarem com membros da própria comunidade, e por isso, tendem a apresentar grandes semelhanças genéticas entre si. Por um lado, isso é muito ruim, pois torna quase impossível evitar a disseminação de doenças hereditárias….
Mas por outro, se aparecer um gene novo e extremamente vantajoso em um Amish, em algumas poucas gerações ele se espalhará e beneficiará uma grande fatia da população.
E é exatamente isso que foi “flagrado” por pesquisadores da Universidade Northwestern, em Chicago!
Com a análise de amostras de 177 Amish do estado de Indiana, os cientistas descobriram que 43 deles carregavam uma rara alteração no gene Serpine1 – associada a um aumento médio de dez anos na expectativa de vida do portador, além de um metabolismo mais saudável e maior resistência ao diabetes. Os resultados da pesquisa foram publicados em um artigo científico.
Uma das funções do gene Serpine1 é instruir o corpo a fabricar a proteína PAI-1, que estimula o processo de senescência. Ou seja, sua função é impedir que nossas células criem novas cópias de si próprias – o que impede a renovação dos nossos tecidos e nos levando à morte.
Quando esse gene não funciona, as células não recebem instruções para parar de se reproduzir. O resultado é que o portador da mutação acaba vivendo mais, e melhor!
O pesquisador Douglas Vaughan, líder do estudo afirmou que “essa é uma mutação genética rara, que parece proteger contra o envelhecimento biológico em seres humanos”.
Na pesquisa, foi verificada uma redução de 50% na produção de PAI-1 nos Amish estudados – o que significa, em termos biológicos, que eles herdaram uma cópia problemática do gene de um dos pais, e uma cópia saudável do outro (o que os torna heterozigóticos).
Em escala celular, essa juventude prolongada se manifesta em estruturas chamadas “telômeros”, que ficam posicionadas como tampas na ponta dos cromossomos. Com isso, eles ficam mais curtos com o envelhecimento do corpo. Não por coincidência, os telômeros dos Amish são mais compridos que o normal.
No estudo também foi constatado que dos 43 investigados, sete acabaram herdando a característica tanto do pai quanto da mãe. Isso cortou completamente a atuação do gene Serpine1, e assim a produção de PAI-1.
Os pesquisadores ainda não sabem o quanto uma dose dupla da mutação será capaz de aumentar a expectativa de vida desses portadores.. Mas eles já sofrem com problemas de saúde associados a mutação.
De toda forma, dez anos a mais já é bastante coisa, não?
Fonte: Revista Super Interessante
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