Com quase 500 mil mortes provocadas pela Covid-19 no Brasil, ninguém está a salvo do luto. Cada vida perdida afeta dezenas de indivíduos, entre familiares, amigos e conhecidos, e o sentimento de tristeza se intensifica quando a despedida não pode ser feita adequadamente.
As medidas de prevenção adotadas para conter o vírus dificultam a realização dos velórios e enterros como os conhecemos. Com cerimônias rápidas e restritas, parece que o breve “adeus” não é suficiente.
Um recurso que pode ajudar a diminuir a dor e ao mesmo tempo amenizar a perda dos entes queridos em suas vidas é uma cerimônia realizada posteriormente, a chamada homenagem póstuma.
Enquanto no Brasil os cortejos fúnebres tradicionalmente se resolvem em 24 horas após a partida, nos Estados Unidos, o processo leva em torno de 4 dias ou até mais, em caso de mortes notáveis.
De maioria protestante, os americanos se preocupam mais em realizar um rito para lidar com a separação do falecido. Eles também têm um cuidado adicional de preservar o corpo e a aparência do ente, que é vestido com suas melhores roupas e podem ser enterrados com pertences pessoais.
O ritual inclui, muitas vezes, serviços de translado dos familiares e do corpo em veículos luxuosos, exposição de fotos do finado e discursos de pessoas próximas que se sintam à vontade para compartilhar suas condolências, além da oferta de uma farta refeição com os pratos favoritos do falecido.
Na Alemanha, o hiato entre a morte e a despedida é de no mínimo 24 horas, mas pode chegar a até 10 dias, o que ajuda a minimizar o trauma da perda.
No país europeu, as famílias enviam um cartão de aviso sobre a morte da pessoa e os detalhes da despedida e são respondidos com cartões de condolências, alguns com dinheiro para auxiliar com as despesas do funeral.
A cerimônia religiosa é contida e silenciosa, às vezes com música triste ao fundo. Um padre ou pastor diz algumas palavras antes do sepultamento.
Depois do ato, os familiares convidam os mais próximos para ir a um café, restaurante ou na casa de quem organizou o funeral para uma refeição, momento no qual se fala sobre as memórias da pessoa que se foi. É o chamado Leichenschmaus, o “banquete do cadáver”.
Apesar de não ser comum no Brasil, qualquer um pode fazer uma homenagem póstuma a um ente querido.
Ela é importante para que o núcleo próximo do falecido sinta-se acolhido e, em tempos de coronavírus, pode ser a chance para quem não teve permissão de comparecer ao funeral se despeça.
Há diversas maneiras de se organizar uma homenagem póstuma. Se não fosse a pandemia, os exemplos norte-americanos e alemães seriam boas formas de encerrar o ciclo. Entretanto, existem alternativas.
É possível convidar todas as pessoas que, por algum motivo, não puderam ir ao velório, para uma videoconferência na qual cada um compartilha uma memória vivida com a pessoa que se foi.
Outra alternativa é aproveitar a missa de 7º dia, bastante popular entre os católicos, para realizar uma roda de oração ou quem sabe formar um petit comité (grupo pequeno) para um café posteriormente. Na oportunidade, os envolvidos podem demonstrar apoio à família.
Quem opta pela cremação pode armazenar as cinzas em uma urna em casa até que a pandemia esteja contida. Quando isso acontecer, será possível reunir os familiares e os amigos para um evento de despedida, durante o qual as cinzas serão dispersadas.
Algumas atitudes, por vezes inconscientes, que realizamos após a morte também são consideradas homenagens póstumas.
Escrever uma despedida nas redes sociais, colocar um obituário no jornal ou entrar em contato com a família para compartilhar boas memórias de quem se foi também são maneiras de homenagear. Já, no momento da despedida final, mesmo que ela esteja restrita, é possível enviar uma coroa de flores para acalentar a família.
No caso de empresas que desejam homenagear a perda do colaborador ou até mesmo quando algum funcionário que falece, é importante se conectar com a família e enviar o que for necessário. As coroas, cartas, homenagens são tudo o que é feito de maneira singela.
No caso de velórios que acontecem durante a pandemia, muitas empresas enviam arranjos de condolências para homenagear os entes queridos de seus colaboradores. Outro ponto que tem acontecido muito é o envio das coroas de flores por parte de amigos que, por não irem ao velório, encontram nas peças uma maneira de lembrar e acalentar.
Também é possível batizar ruas, avenidas, monumentos e empreendimentos da cidade com o nome do falecido. Se ele foi uma pessoa notável para a região, a Câmara de Vereadores do município pode aceitar a sugestão.
A homenagem póstuma também pode acontecer de forma periódica, como, por exemplo, no Dia de Finados (2 de novembro), na data em que a pessoa nasceu ou no dia do aniversário de morte. Cabe aos familiares e amigos organizarem um ritual, como uma visita ao cemitério ou uma reunião presencial ou a distância para manter viva a memória daqueles que não estão mais entre nós.
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