“Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou”, diz Heráclito. “O tempo é como um rio. Você nunca poderá tocar na mesma água duas vezes, porque a água que já passou, nunca passará novamente”, explica Augusto Aschar.
Não fica difícil chegar à conclusão de que um rio é uma excelente metáfora para o significado da vida e do tempo. E se formos pensar em tudo o que aconteceu nos últimos meses e comparar com o curso de um rio é possível imaginar águas violentas e cheias de obstáculos que acabam em uma gigantesca e desconhecida cachoeira.
A pandemia do COVID-19 fez a realidade e o cotidiano que conhecemos praticamente desaparecer. Estamos vivenciando um dia após o outro, na pele, a história ser escrita. E quais serão as lembranças que teremos e contaremos para as próximas gerações?
Quando saímos de uma situação como a que vivemos, a quarentena da desinformação e da insegurança revelada pela finitude da vida, tão exposta e ameaçadora, fica claro que alguns valores precisam de uma profunda revisão.
Vive-se no céu de incertezas, sem plano de voo e destino. E, obviamente, que o questionamento será uma pauta sem assinaturas. A vida, família, modelo de educação para os filhos, profissão, saúde, academia, jantares fora e vinho em famosas vinícolas.
Como será tudo isto? O que foi aprendido com esta quarentena? Li o que precisava? Desenhei projetos? Ou só fiquei à mercê dos noticiários, dos números e à espera do próximo jornal?
Seja em casa colocando em prática o isolamento social ou saindo para trabalhar, muitos têm medo. Temos pensado, cada vez mais, na real necessidade do ter, do possuir e do consumir, por exemplo. E está na hora de começar a refletir também sobre quem seremos depois que tudo isso acabar.
Será a hora de começar ou de recomeçar? Essa é a reflexão que quero trazer para este artigo.
Significados das Palavras Começar e Recomeçar
Conheça o significado dessas duas palavras segundo o dicionário Michaelis:
Recomeçar: Começar de novo a fazer algo que se interrompeu, retomar; Tornar a ocorrer e tornar a produzir-se.
Começar: Iniciar algo (ação ou processo), principiar; Ter começo ou princípio; Ter a primeira experiência e Iniciar em certas condições.
Analisando os dois significados podemos dizer que não há muita novidade no recomeçar. É apenas ‘despausar’, continuar do ponto em que se estava antes. Uma operação que está ligada ao passado usando conceitos, aspectos e conexões já conhecidas e testadas.
E onde de certa forma, iremos repetir comportamentos e pensamentos, viveremos do passado como referência. Com certeza serão necessários alguns ajustes, mas provavelmente será um caminho parecido com o que já é conhecido.
Na prática, recomeçar não é iniciar algo totalmente novo, é apenas continuar os planos que já foram traçados – ou mudando-os o mínimo possível.
Já o começar é inovar, se repaginar, começar do zero. Como voltar um smartphone ou outro aparelho eletrônico às configurações de fábrica.
Mas, para abrir uma nova jornada, é preciso finalizar a anterior. É necessário muito mais que isto, é abandonar as roupas velhas, o estilo antigo, pensamentos e pessoas que não combinam mais com seu novo projeto.
E fazer um mergulho dentro de nós mesmos que sempre é agradável. O início só será real quando nos modificarmos e libertarmos das nossas prisões. Seja o medo de tentar algo diferente ou o risco de saber o que há depois da cachoeira.
E esse ‘start’ vale tanto para a vida pessoal quanto profissional. Tanto que muitas pessoas estão aproveitando os momentos em casa para se reconectarem com a família, fazerem cursos e buscarem novos caminhos para transformar completamente a sua existência.
Quando é o início e o fim?
Pode ser bem difícil saber quando colocar um ponto final e finalizar algo. Mas vale a pena! Nosso mundo pede isso. Chega de apenas ver os dias passarem, de perpetuar relacionamentos e situações que não nos fazem crescer e sermos pessoas melhores. Agora é hora de não apenas sonhar, mas sim trabalhar para que o que era plano virar realidade.
É possível inclusive pensar na Teoria da Evolução de Charles Darwin. O homem não é uma criação divina, mas sim um produto final e ainda provisório. Estamos em constante evolução, sempre buscando a melhor versão de nós mesmos.
Segundo as palavras de Manuel Bandeira, “Precisamos ser, cada vez mais, como um rio que flui/ Silencioso no meio da noite/ Não temer as trevas da noite…”
Tudo o que estamos vivendo vai passar. E de que maneira você sairá banhado pelas águas do rio da vida e do tempo quando tudo isso acabar: começando ou recomeçando?
*Lisia Prado é sócia da House of Feelings, primeira escola de sentimentos do mundo. Mais informações em www.houseoffeelings.com.
Lisia Prado, sócia-diretora da House of Feelings