Sempre que há a constatação de uma morte encefálica, perda irreversível das funções cerebrais, funcionários de uma das dezenas de Organizações de Procura de Órgãos (OPOs) no Brasil entram em contato com a família do paciente falecido, solicitando a doação dos órgãos. Com a decisão, o tempo entre contatar alguém que aguarda na fila de espera, deslocar uma equipe especializada até o hospital mais próximo e receber o órgão, pode ser um tanto apertado. Pensando nisso, pesquisadores da Universidade de Baltimore, nos Estados Unidos, começaram a testar um método de transporte mais rápido para o transporte de órgãos: drones. E o resultado foi animador: mesmo a viagem mais longa (4,8 km) ocorreu de forma tranquila, e o órgão chegou sem quaisquer avarias.
A tarefa das equipes de OPOs é, de forma resumida, explicar a importância da doação aos familiares e o quanto essa decisão pode salvar vidas. A atual estimativa é a de que existam mais de 32 mil pessoas à espera de um órgão novo.
A grande maioria dos órgãos transplantados no Brasil ocorrem por meio deste processo. De acordo com dados recentes (entre janeiro e setembro de 2018) do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), as doações entre pessoas vivas são mais raras, somando apenas 843 casos, enquanto que os outros 6.419 transplantes do período vem de doadores falecidos.
Ainda para que esses números sejam possíveis, é necessário que as equipes de saúde corram contra o tempo, já que uma vez retirado do corpo, cada órgão tem um prazo de validade, o chamado “tempo de isquemia”, intervalo máximo que a peça vive fora do corpo.
O rim, por exemplo, é o órgão mais transplantado, e tem o tempo de isquemia de 48 horas. Já o fígado e pâncreas não duram mais que um dia. Coração e pulmão são ainda mais sensíveis, podendo ficar apenas de 4 a 6 horas fora do corpo.
E é pensando em tudo isso que Joseph Scalea, pesquisador da Universidade de Maryland que liderou o experimento, estava considerando ao desenvolver o estudo. Em entrevista à revista IEEE Spectrum, ele afirmou: “Frequentemente me deparo com situações em que não é possível captar um órgão na velocidade suficiente para fazer um transplante – assim, órgãos que poderiam salvar vidas não chegam aos pacientes. É algo bem frustrante, então quis desenvolver um sistema para fazer isso melhor”.
O estudo e experimento
Em uma primeira série de 14 testes realizada com um rim humano, um drone voou mais de uma hora para levá-lo ao local pré-estabelecido pelos médicos. Sua velocidade máxima no trajeto foi de 67,5 km/h – o que é uma média consideravelmente mais rápida do que uma ambulância comum – e que ainda pode sofrer forte influência do trânsito, por exemplo. Mesmo a viagem mais longa, que foi de 4,8 km aconteceu de forma tranquila, e o órgão chegou sem quaisquer avarias.
O drone utilizado nesse translado foi o de modelo DJI M600 Pro, um drone considerado comercial que pode ser adquirido por qualquer pessoa por aproximadamente US$ 5 mil (cerca de R$ 19 mil). Para monitorar aspectos como a temperatura, a altitude, a pressão, a vibração e a localização em tempo real, o equipamento foi modificado com um compartimento especial refrigerado e sensores.
Ao final do voo, os cientistas fizeram uma biópsia para avaliar o estado de conservação do rim e, segundo os cientistas, a viagem trepidou menos do que aconteceria se fosse levada por um avião comum! A temperatura, da mesma forma, se manteve próxima dos ideais 2,5 °C. Um estudo sobre o inédito teste foi publicado na edição de novembro do Jornal sobre Logística em Saúde e Medicina do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), dos Estados Unidos.
A ideia é que a técnica possa ser aperfeiçoada para de fato salvar vidas e num futuro bem próximo. De acordo com o pesquisador líder, Scalea, o grupo pretende testar a técnica com um paciente vivo já em 2019, ou seja, já no próximo ano.
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Com informações Revista Superinteressante