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Enfim… Grávida…

Sim!!! Ninguém me entende!

Oscilo o dia inteiro e ainda chegam até mim e dizem: nossa, que lindo seu momento… nossa, como você está perfeita… nossa… nossa… nossa… Infinitos ‘nossas’ que em nada modificam o real estado de estar uma ‘bomba hormonal prestes a explodir’.

É, estou grávida. Mas, e agora? O que faço com esta ‘bomba’ que todo o momento tenho a nítida certeza: vai explodir! E penso: vou enlouquecer! Opa, vai… vou… vai… vou… ai vem um tempo para respirar e pensar: não é tão ruim assim. Mas o vai, o vou, retornam. Como lido com os pensamentos que insistem em surgir?

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Qual o seu desejo? Qual a sua história? Cada mãe é uma mãe.
Qual o seu desejo? Qual a sua história? Cada mãe é uma mãe.

Não pareço dominar a mim mesma. Tento dividir com as pessoas que estão por perto, pedir um socorro, mas ai descubro que é melhor não dividir com ninguém, pois ao menor ato de falar a realidade vivida (como por exemplo “como é chato estar grávida e deste tamanho imensaaa”), já verifico uma repreensão visual (os rostos em reação são os mais intensos e recriminatórios que se possa imaginar) e um ‘rebote’ instantâneo: “Não fale isso! Que absurdo! Você tem que…” preenchido por ‘n’ falas do meu melhor proceder e sentir.

Crise! É, Crise! É isso! Mas o que seria crise? Caplan, em 1963, a definiu como “um período temporário de desorganização do funcionamento de um sistema aberto, precipitado por circunstâncias que transitoriamente ultrapassam as capacidades do sistema para se adaptar interna e externamente”, ou seja, a mulher grávida ‘perde’ temporariamente sua força egóica, sem encontrar e poder utilizar seus métodos habituais de solução de problemas. Precisa, assim, mobilizar mecanismos adaptativos do ego (eu) em busca de respostas novas. Estas respostas/soluções podem ser saudáveis – melhorar (personalidade mais integrada e amadurecida) – ou podem ser deficitárias – piorar (personalidade mais desintegrada, desorganizada e personalidade desajustada).

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Crise! É, Crise! É isso! Mas o que seria crise?
Crise! É, Crise! É isso! Mas o que seria crise?

Muitos aspectos permeiam esta crise da gestação: alimentação, cuidados físicos, exercícios, direitos, deveres, parto,… ‘Tudo’ precisa ser repensado/revisto. Um dos fundamentais, na grande maioria das vezes, deixa de ter o foco necessário: o aspecto Emocional.

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Estar grávida é, sim, uma benção; é, sim, um estado de aparente plenitude; mas um estado que mexe excessivamente com os hormônios da mulher, parecendo estar fervilhando, fervilhando… que faz ficar mais difícil lidar com o próprio corpo, o próprio ser.

Extremas mudanças hormonais, adaptações, que exigem muito da mulher, do ser/indivíduo. Serão nove meses de ‘flutuações’ diárias. Junto aos hormônios, tensão biológica e mudanças metabólicas completas, vem toda uma vida anterior, ou seja, não se pode parar de estar inserido na vida rotineira somente por estar grávida. Sem dar conta de si mesma, a gestante ainda precisa dar conta do marido, dos filhos (caso já tenha mais filhos), dos pais, do trabalho, das contas, das… dos… das… dos…

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Muitos aspectos permeiam esta crise da gestação: alimentação, cuidados físicos, exercícios, direitos, deveres, parto...
Muitos aspectos permeiam esta crise da gestação: alimentação, cuidados físicos, exercícios, direitos, deveres, parto…

Eternas reticências, onde o ser existente fica envolto e sem tempo pra poder perceber a si mesmo. Mas e agora? Pra quem peço socorro? Tá, eu até posso e vou falar com as amigas que estão grávidas, como eu, mas ai vem uma sensação de que ‘ninguém está vendo o que está acontecendo’. Um papo gostoso, um expressar em estilo “confissão”, mas nada some… E realmente, nada some até que nasça o bebê. Mas ai são outras “realidades” a se viver, tendo agora o bebê pro ‘lado de fora’. Mas este outro passo é de outra ordem que se dará conta.

A gestante necessita, durante toda a gestação, adequar-se às mudanças de papel social, aos resgates interpessoal e intrapsíquico, e às mudanças de identidade. Porém, o que encontra, geralmente, é uma imagem da grávida embelezada com sua barriga à amostra, em estado de graça e plenitude, uma ‘fantasia’ gerada e mantida, mas que encontra uma realidade diferente na prática. A imagem ‘infantil’ da gestação ‘bloqueia’ a vivência do real estado, do ser único, com particularidades que diferencia cada gestante. Cada ser que gere é um ser único, sua história é única. Sua forma de passar a gestação será única.

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A mulher se permite dar esse passo, mas e como lidar com todo esse processo? As vezes a vontade é sumir ou querer voltar atrás… mas, nenhuma dessas possibilidades será possível, e por mais ‘ruim’ que seja esta condição atual, já se ama estar vivendo-a. O que resta então é viver o ‘lado não legal’ disso tudo (e vamos combinar que as vezes os pensamentos até parecem vir do lado ‘ilegal dos pensamentos’, não é mesmo?!) da melhor forma possível.

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A gestante necessita, durante toda a gestação, adequar-se às mudanças de papel social, aos resgates interpessoal e intrapsíquico, e às mudanças de identidade…

Para sair dessa ‘nuvem’, basta perceber inicialmente que ela é uma nuvem, e que por trás desta, sempre há algo. Nesse caso, tem uma pessoa, você, ‘Maria, Joana, Cristina, Patrícia…” que precisa rever e pensar como foi o seu processo até aqui, que conflitos estão presentes no seu eu.

Ter um grupo de apoio permite que os estados que se está vivendo (com uma grande vivência de regressão), as intuições e as emoções flutuantes, se reencontrem na sua personalidade. Sentir-se ‘contida’ afetivamente, sendo aceitas suas emoções e ter confiança nos que a acolhem, favorece a conexão com si mesma e com tudo que ocorre à sua volta e internamente.

A cada gestante, a cada ser, um processo, uma gestação. Não se coloque num ‘balaio’ junto a todas as outras e nem se conforme em somente dizer: ao nascer, vai passar! Passa, sempre passa essa sensação vivenciada na gestação, mas todos os conflitos nesta presentificam-se mais ainda tendo o bebê em seu colo. Vem as inseguranças, medos, angustias novas, que precisam de você fora da ‘nuvem’, você podendo ser você, inteira, pra sustentar a necessidade total que o bebê ou “sua majestade o bebe” (Sobre o narcisismo: uma introdução – Freud, 1914) vai exigir de você: humana e Mãe.

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A cada gestante, a cada ser, um processo, uma gestação. Não se coloque num ‘balaio’ junto a todas as outras e nem se conforme em somente dizer: ao nascer, vai passar!
A cada gestante, a cada ser, um processo, uma gestação. Não se coloque num ‘balaio’ junto a todas as outras e nem se conforme em somente dizer: ao nascer, vai passar!

Cada mulher precisa construir sua maneira pessoal de se tornar mãe, pautado e sustentado por um conhecimento mínimo da sua história pessoal. Esta precisa de ajuda para avaliar suas necessidades e sua intuição, para ela tomar as decisões que favoreçam a si e ao seu bebê. A gestação é parte de um processo maternal e a mãe precisa atravessar lentamente todo ele. Qual o seu desejo? Qual a sua história? Cada mãe é uma mãe.

Estado de perigo e oportunidade. Assim, a busca por auxílio de profissionais pode favorecer, através da intervenção eficiente, pela rapidez com que se aproveita e absorve este auxílio durante a fase gestacional/crise.

Os mecanismos defensivos e adaptativos encontram-se menos rígidos e estruturados, com menos hesitação para enfrentar mudanças. A melhor maneira de auxiliar neste período de crise é encorajar, evitando suprimir, a livre expressão dos sentimentos (raiva, tristeza, nojo, alegria, entre outros) para que estes possam ser elaborados e superados.

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REFERÊNCIAS:

CAPLAN, G. Emotional Crises. Em: The Encyclopedia of Mental Health, vol. 02. Nova Iorque, 1963;

FREUD, S (1914). Sobre o narcisismo: uma introdução. In: FREUD S. Edição standart brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. 12. Rio de Janeiro: Imago, 1990;

GUTMAN, Laura. A maternidade e o encontro com a própria sombra. 8ª Edição. Rio de Janeiro: BestSeller, 2015;

MALDONADO, Maria Tereza Pereira. Psicologia da Gravidez: Parto e Puerpério. 3ª Edição. Petrópolis, Vozes: 1980.

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